quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Intrínsecos...e cada dia mais indissociáveis...

- "Então te cuida quando tiver indo pra casa, meu anjo..
- Tá bom... Tu também, te cuida no trânsito...
- Daqui a pouquinho tô em casa...Te amo...
- Também te amo... Fica com os anjinhos..."


Desliguei o telefone, e vi o pessoal ali parado, me olhando.
Não dei assunto, mas visivelmente alguém queria me dizer ou perguntar algo...
Um deles não aguentou, e soltou:

- "Rafa...há quanto tempo vocês estão juntos, hein?"

Dezesseis anos. Há dezesseis anos estamos juntos. Lembro que falei isso, dando aquele suspiro "pra dentro", sabe...
Aquele que faz o olhar da gente ir pra cima, e se perder...
Percebi que, a cada vez que alguém me pergunta isso, os dezesseis anos passam rapidinho na minha frente enquanto respondo. É felicidade. É certeza.

Mas aí, ele me fez uma outra pergunta...

- "E vocês ainda se falam assim?"


Na hora só consegui emitir um simples "Sim", inventei algo pra fazer, e acabei me afastando...Mas fui, pensando em como eu tinha falado com ela...
Por mais que eu procurasse qualquer outra coisa, só conseguia ver preocupação com a pessoa que eu amo, e por isso mesmo, a questão de tranquilizá-la, garantindo que logo estaríamos juntos...
A expressão do nosso sentimento...e o desejo de uma proteção que seja ainda maior que nós, representada na figura dos "anjinhos"...
Há dezesseis anos a gente se fala assim...
Porque a gente se ama, a gente só quer o bem um do outro...


Pensei no relacionamento dele...
Sim, ele tem uma namorada há nove anos...e provavelmente já não se falem mais "assim"...
Duvido que cheguem a dezesseis anos e, caso cheguem, não sei se valerá a pena...
Por que ter alguém, se não for pra conversar assim, pra preocupar e amar assim?
Talvez ele não saiba, que é preciso amar pra continuar amando e ser amado...
É justamente porque eu encontrei a mulher da minha vida, que eu me preocupo ainda mais em preservá-la e honrá-la. Trata-se de uma questão de inteligência, obediência e generosidade.
Foi o apóstolo Paulo, na carta aos Efésios, quem disse: “o homem que ama sua mulher ama a si mesmo”.

Hoje, eu não respondi...
Mas amanhã, vou lá cedinho dizer pra ele que sim, a gente ainda se fala assim, e assim será para todo o sempre...

E torcer pra que ele possa encontrar o seu motivo também...



terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Sábio era o Seu João...

Ontem fui ao supermercado, para comprar pilhas. No mercadinho aqui ao lado não adiantava ir, porque ali não existem as pilhas que eu preciso.
Segundo o Seu João, dono do armazém, pilha se divide só em pequenas, médias e grandes.
Diz ele, que esse negócio de “pilha-palito” é frescurada.

- “Ora, onde já se viu fazer umas pilhinhas desse tamanho? Isso deve acabar em meia-hora...” – argumenta o Seu João, do alto de seus quase 80 anos de vida.

Já tentei de todo o jeito explicar que os aparelhos agora são menores, e que por isso as pilhas também precisaram diminuir de tamanho, mas que não perderam a capacidade de energia.
Não houve jeito.
Seu João não entende, e não aceita de forma alguma essas minúsculas e inúteis pilhas em sua quitanda.

Fui, e comprei a tal da pilha, que aliás, custa os olhos da face.
É o mal do pobre. Quer ter TV, Net, aparelho de som, ar-condicionado e isso e aquilo, mas depois não tem como manter as pilhas dos controles...
Aproveitei e comprei uns outros negócios que precisava também.
Umas lâmpadas, uma tesoura nova, porque a minha ainda era aquela de pontas arredondadas do tempo do primário, e eu acho que deve ser importante ter uma tesoura em casa...
Quando cheguei em casa, fui abrir as embalagens para poder utilizar meus produtos.

E foi aí que começaram minhas incomodações.

Se fosse um caso de vida ou morte, eu certamente não estaria aqui pra contar.
Até ontem, eu nunca havia prestado atenção nas embalagens de pilha. Durante cerca de uns 20 minutos eu tentei, em vão, abrir o pacotinho usando apenas as mãos.
Alguém saberia me dizer qual a razão desses invólucros?
Vocês lembram de como era há alguns poucos anos?
Vinham as quatro pilhas, enroladas num pedacinho minúsculo de plástico, como essas aí ao lado...
Bastava torcer pra lá, torcer pra cá e pronto, as pilhas pulavam saltitantes, felizes com a liberdade.
Hoje não. Hoje tem o papelão, que além de grosso, é afiado. É um movimento errado e lá se vai um talho no indicador.
Vencido o primeiro obstáculo, ainda existe o segundo.
Uma espessa camada de plástico. Mas não é um plástico comum, não...de jeito nenhum.
Parece ter sido desenvolvido pela NASA. Nunca na minha vida eu tinha visto um material como aquele. Pensei até em reaproveitar e utilizar nas trancas do meu carro.
Mas afinal de contas, o que pode acontecer de tão perigoso com as pilhas?
E o mais engraçado é que, bem no cantinho da embalagem, ainda vem escrito: “ABRA AQUI”.
Só podem estar brincando com a minha cara....

...

Bom. Depois disso, fui dar jeito no restante das compras. Fui guardar a lâmpada. E por muito pouco, ela não resvala pelo meio dos meus dedos e se estrebucha no chão.
Vocês já prestaram atenção nas embalagens das lâmpadas? Já? Já prestaram?
A lâmpada, que em termos de fragilidade só perde para os ovos, vem envolta em um papelão ridículo. Que rasga só de fazer força. E é aberto dos dois lados. Dos dois lados!!
Nessas horas que eu penso:

— “Bem faz o Seu João ali do armazém...



segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Muito prazer... A casa é sua...

Razão ou sensibilidade?
Eu sou dois...no mínimo.
Acho até que devo ser mais...mas para fins introdutórios, hoje, aqui, sou dois.
E há basicamente dois tipos de pessoas que estão agora lendo esse texto: os que conheceram o Rafael que se atreve a escrever, e os que conheceram o Rafael que vive o rádio...
Eu sou esses dois...Ao mesmo tempo...
E vou aproveitar essa dualidade pra começar o papo por aqui...
Sou Rafael, e sou, essencialmente, cabeça e coração. Constantemente preso como o pêndulo de um relógio que flutua entre a razão e a emoção...
Entre a dúvida e a certeza...Entre ouvir e ler...Entre falar e escrever...
O meu mundo é assim...


Dizem por aí que, de todos, o maior arrependimento do homem é o de NÃO ter feito algo.
Tenho uma forte tendência a achar que pior ainda é DEIXAR DE DIZER alguma coisa para alguém. No meu caso, lamento e muito o fato de não ter expressado a quem realmente merece, o quanto os amo, e o quanto são importantes pra mim.

Tenho (ou tive) amigos que não sei se voltarei a vê-los. Que seguiram sua vida sem nunca terem ouvido de mim a falta que me fariam. No afã de parecer forte, superior, deixei de expressar o sentimento de saudade e agradecimento por todos os anos de amizade.
Com minha bisavó, o mesmo. Faleceu da noite pro dia, sem nunca ter ouvido da minha boca o "obrigado" que merecia por tudo que me fez. Me deixou sem nunca saber que jamais no mundo vou encontrar pessoa tão boa, tão delicada, tão carinhosa...

Faleceu sem saber do tamanho orgulho que ainda tenho dela, por colocar no mundo uma família inteirinha sem saber escrever e, mal e porcamente, lendo uma ou outra palavra.
Tenho medo que isso se repita.
Que, com o passar do tempo, eu vá perdendo mais e mais pessoas sem comunicá-las de tudo aquilo que gostaria.

Algumas ex-namoradas, por exemplo, partiram acreditando em uma possível reconciliação, simplesmente porque eu deixei de dizer o que seria preciso. Com medo de magoá-las, mostrando-me um rude, machuquei-as ainda mais, por culpa do silêncio.
Ainda bem que descobri a tempo. Descobri a importância de dizer o que sentimos.
Por isso voltei a escrever...
Pra dizer tudo que penso...

Faça o mesmo: vá até a pessoa que você ama, telefone, mande um e-mail, não interessa. O importante é comunicá-la daquilo que você sente, seja bom ou ruim.

Abra o coração, sem medo, sem receio. A verdade é sempre a melhor saída.

Pois bem, ilustríssimos...


Sejam bem-vindos. É humilde, mas é limpinho.

Só gostaria mesmo de dar as boas-vindas a todos, antigos e novos leitores...
E dizer que esse espaço é nosso...
Muito prazer... A casa é sua...


 

Olé!

Sabe quando um time de futebol joga "dando olé"?
Significa jogar simples, rápido, de forma objetiva, com poucos toques na bola, visando envolver o adversário e chegar mais facilmente ao objetivo, ou seja, o gol.
Invariavelmente, as equipes "dão olé" somente DEPOIS de conseguir um placar vantajoso, depois de um jogo difícil, complicado, de tentativas e erros.

Há algumas semanas, o tio de um grande amigo meu faleceu.
Trabalhava como minerador, em outro Estado.
Já a família, morava por aqui mesmo. Era pago pra passar dez dias no emprego, alguns outros tantos viajando. Com esposa e filhos, passava cerca de 15 dias.

Como era um homem "ambicioso", resolveu que dedicaria à empresa 20 de seus dias do mês. O dobro do necessário. 
Dizem os amigos que tanta dedicação tinha o propósito de conseguir "ampliar um pouco mais a perspectiva de salário".
Dizia ele que tinha vontade de proporcionar um futuro melhor para o filho.

Faleceu em um acidente de trabalho.
Que ocorreu na segunda dezena de dias.

Dia desses, aqui em Porto Alegre, um empresário foi assassinado durante uma tentativa de assalto. A ocorrência se deu por volta de 23:30, mais ou menos. Quando o empresário estava saindo de seu trabalho.
Ao ouvir o tiro, o irmão da vítima, que (também) trabalhava no prédio, saiu para a rua, como faz todo o curioso. Quando pisou na calçada, deu de cara com o corpo já praticamente sem vida. Sua primeira frase foi:
- "Ele trabalhava até essa hora pensando na família..."
Deixou um filho de seis anos.


Continuem acompanhando o raciocínio, e vocês verão onde quero chegar.


Posso apostar que, caso o tio do meu amigo (ou o empresário assassinado dia desses...) tivesse sobrevivido, estariam hoje completamente arrependidos. Andariam ambos por aí, aplicando aquele discurso:
- "Depois dessa experiência, passei a enxergar a vida com outros olhos. Agora me dedicarei ás coisas verdadeiramente importantes, como a felicidade da minha família".


Agora vem o link com a primeira parte do texto


Isso tudo, pra mim, soa como "dar olé" em final de jogo.
É como botar uma tranca numa porta recém arrombada.
Não sei se sou mais inteligente, ou mais burro por causa disso.
Mas eu cheguei a uma conclusão na vida, que a mim soa bastante óbvia: não preciso de uma experiência "quase mortal" para viver de outra maneira.
Já entendi quais são os verdadeiros pilares da humanidade.
E entre eles, definitivamente não estão o dinheiro, a promoção, a roupa que vestimos ou o carro em que andamos.
Os casos que citei acima são apenas dois aos quais tive contato.
Isso deve acontecer todo santo dia. Talvez não com finais tão trágicos quanto a morte. Mas com resultados bastante negativos, principalmente a longo prazo.

Quer pensar na família?
Então esteja com ela, constantemente.
Está pensando no futuro do seu filho?
Então seja um pai presente.

Ok, ok... seu filho vai precisar de uma estrutura, de dinheiro. Sim, eu sei.
Para uma coisinha ou outra, realmente é preciso de dinheiro.
Mas a presença do pai (ou da mãe), é vital.
Quer dedicar-se a alguma coisa?
Dedique-se a quem você ama...
Quer vestir alguma camiseta? Vista também a camiseta do time do seu filho, a camisa da sua esposa, a sua...

E permaneça vivo. Com vontade de viver. 
Com razão para viver.
Talvez você possa me explicar por que os times de futebol não jogam "dando olé" desde o primeiro apito do juiz....


Soprar 3 vezes ao dia...

Vou contar aqui um negócio que, durante um bom tempo, me deixou com muita vergonha
Só perdeu para o dia em que fui à aula de pantufas...
Mas isso é outra história...

Tive uma fase na vida, ainda menino, em que eu era muito tímido. Mas tímido mesmo.
Era tão xucro, que cheguei ao ponto de desenvolver uma gagueira.
Isso mesmo.
Hoje não tenho mais vergonha; sou um homem estabilizado, apresento um programa de rádio, orgulhoso de minha dicção, certo de minhas virtudes e corajoso o suficiente para admitir que, durante um pequeno período da minha infância, eu fui um semi-gago.
No início, era só mais um motivo de chacota entre os meninos mais velhos, além do meu cabelo e dos shorts que minha mãe fazia eu usar.
Todos pediam para que eu falasse alguma coisa, só pelo mórbido prazer de ouvir a mesma sílaba ser pronunciada mais de 4 vezes na mesma palavra.

Quando chegou ao ponto de eu quase não conseguir pronunciar meu próprio nome, aí sim, meus pais começaram a se preocupar. Me levaram a um fonoaudiólogo.
Lembro que, à época, cada vez que eu tentava pronunciar o nome da profissão, eu percebia a necessidade dela.
E fui. Ele examinou, examinou e examinou por horas, o meu pescoço.
É, o pescoço.
E chegou à conclusão de que os meus músculos da voz eram pouco trabalhados.
A receita médica dizia:
"No período de um mês, assoprar um balão durante 15 minutos, 3 vezes ao dia.
Em frente ao espelho"

Ou esse cara era o novo paradigma da fonoaudiologia, ou eu estava sendo o responsável pelas maiores gargalhadas da vida dele.
Procedimento feito, era a hora do teste.
- "Rafa, diz pra mim todo teu nome"
- "Ra...ra...rafa... rafafa... Rafael"


Isso é teste que se faça?
Nada no mundo pode ser pior para um gago do lhe perguntarem qual seu nome.
Depois de ser testado, novo diagnóstico. O quadro não evoluiu.
Outra receita. Mesmo procedimento, porém, ao invés do balão, dessa vez a vítima seria uma língua-de-sogra. Ainda de frente pro espelho.
Mais um período de sopros e caras feias, e nada de curar a gagueira.
Me mandaram para um psicólogo, na mesma época em que eu mesmo já começava a me preocupar com aquela maldita dificuldade de falar.

Psicólogos são bem engraçados.
Na minha primeira consulta, após um longo e desgastante exame, o diagnóstico:
- "Rafael, tu não é gago..."
- "hein?"
- "É isso mesmo, Rafael. Você só precisa acreditar nisso: que não é gago.."
- "ahh...tá..."


Fui a um analista.
Até hoje não sei bem qual é a diferença entre um e outro.
Segundo esse especialista, eu só precisava "não querer" ser gago.

- "Mas moço.... foi exatamente por isso que eu lhe procurei. Porque não quero ser gago, entende..."
- "Correto. Mas você precisa não querer de verdade. Como se realmente não quisesse ser..."
- "...tá bom..."


Nisso, passaram-se uns dois anos.
Nenhum dos métodos foi capaz. Com o passar do tempo, fui melhorando, com o auxílio das minhas próprias técnicas. Na verdade, bastou envelhecer, amadurecer, perder os hábitos comuns à uma criança e tudo se resolveu. Perdi aquela timidez estúpida que só sabia prejudicar e me tornei um homem.

Mas que foi engraçado consultar esses doutores, ahhh isso foi....


Sete regrinhas básicas pra vida...




  1. Meu espírito é um campo de possibilidades infinitas que conecta tudo o mais. Esta frase resume a totalidade do que estou expondo. Se você esquecer tudo o mais, lembre-se apenas disso;
  2. Meu diálogo interno reflete meu poder interno. O dialogo interno das pessoas auto- realizadas pode ser descrito assim: é imune a críticas; não tem apego aos resultados; não tem interesse em obter poder sobre os outros; não tem medo. Isso porque o ponto de referência é interno, não externo;
  3. Minhas intenções tem poder infinito de organização. Se minha intenção vem do nível do silêncio, do espírito, ela traz em si os mecanismos para se concretizar;
  4. Relacionamentos são a coisa mais importante na minha vida. E alimentar os relacionamentos é tudo o que importa. As relações são cármicas e quem nós amamos ou odiamos é o espelho de nós mesmos: queremos mais daquelas qualidades que vemos em quem amamos e menos daquelas que identificamos em quem odiamos;
  5. Eu sei como atravessar turbulências emocionais. Para chegar ao espírito é preciso ter sobriedade. Não dá para nutrir sentimentos como hostilidade, ciúme, medo, culpa, depressão. Essas são emoções tóxicas. Importante: onde há prazer, há a semente da dor, e vice-versa. O segredo é o movimento: não ficar preso na dor, nem no prazer (que então vira vício). Não se deve reprimir ou evitar a dor, mas tomar responsabilidade sobre ela;
  6. Eu abraço o feminino e o masculino em mim. Esta é a dança cósmica, acontecendo no meu próprio eu. A energia masculina: poder, conquista, decisão. A energia feminina: beleza, intuição, cuidado, afeto, sabedoria. Num nível mais profundo, a energia masculina cria, destrói, renova. A energia feminina é puro silêncio, pura intenção, pura sabedoria;
  7. Estou alerta para a conspirações das improbabilidades. Tudo o que me acontece de diferente na vida é carmico. É, portanto, um sinal de que posso aprender alguma coisa com aquela experiência. Em toda adversidade há a semente da oportunidade.


Daquilo que eu enxerguei no escuro...

Se tem coisa que eu quero na vida, mais do que cruzar o caminho de um disco voador, é encontrar uma outra pessoa que admita acreditar nisso tudo, como eu.
Não é de hoje que sou fanático por isso.
Lembro que, ainda muito pequeno, fui tomado de assalto por uma imagem diferente, bonita e estranha acompanhando a ida de minha família até a praia.
Era madrugada, e no carro estavam meus pais, minhas avós e eu.
Além de meu pai, que dirigia o carro, só eu estava acordado.
Lembro que, quando criança, ficava fascinado ao olhar para o céu na madrugada escura das estradas. Não sentia sono algum, ao contrário, me sentia ainda mais acordado observando uma infinidade de estrelas, satélites, planetas e meteoritos totalmente novs, imperceptíveis nos céus enfumaçados da capital.
Bem... nessa noite, o silêncio imperava dentro do veículo, o que fazia minha imaginação chegar ainda mais perto de todos aqueles astros.
Foi quando vi, pela primeira vez naquela madrugada, algo que nunca mais vou esquecer.
Não vou relatar com detalhes, porque sei que todos irão pensar que estou brincando, ou escrevendo um conto de ficção.
Mas vi, e, lá nos meus segredos, posso jurar que tratava-se de algo jamais visto ou imaginado pelo homem.
Se era uma nave, confesso que até hoje não sei. Se tinha alguém pilotando, sei menos ainda.
Ora movimentava-se, ora ficava estática.
Parecia que nos observava, acompanhava, durante a viagem.
Meu pai, aparentemente, nada havia visto, mas não quis avisá-lo.
Não tinha coragem de tirar os olhos daquele fenômeno. O restante da família dormia.
Pelos meus pensamentos a única ideia que ia e voltava era:

- "Quanta gente poderia passar por isso se prestasse mais atenção nos detalhes. Se pensassem menos em si mesmos..."


Não tirava o olho da luz, em momento algum. Durante alguns instantes até medo eu senti.
Não sei por quanto tempo aquilo ainda durou, perdi um pouco a noção dos minutos.
De repente, apagou. Fiquei ainda alguns instantes mirando o céu, atrás daquela luz, mas não vi mais nada. Agora nem mesmo as milhares de estrelas faziam diferença. Foi como se eu tivesse sido tomado por uma dose cavalar de adrenalina, e agora eu precisava de mais, como um viciado. Mais alguns quilômetros, e nada.
Nem avião passou por sobre a minha cabeça.
Até que, já quase chegando na praia, o mesmo reflexo invadiu a minha janela.
Não sei bem porque, mas aquela luz voltou novamente.
Por muito menos tempo, é verdade. Mas voltou.

Naquela noite, definitivamente não dormi.
No outro dia, não tinha coragem de contar nada a ninguém.
Nem pra minha mãe.
Na verdade, eu comentava até comigo mesmo que aquilo certamente teria sido um sonho, que na verdade eu já deveria ter cochilado há horas.
Durante toda a tarde seguinte, tentei me convencer que aquela luz toda não passava da luz alta de um caminhão viajando no sentido contrário.

E foi assim que sepultei um dos momentos mais bacanas da minha infância.
Mas não adiantou muito. Nunca consegui esquecer aquela madrugada.
Cresci, sem tocar nunca mais naquele assunto. Houve épocas em que me sentia mesmo meio lunático. Simplesmente por acreditar em algo que, ora bolas, eu havia visto. Enquanto isso eu era obrigado a continuar acreditando em Deus. Que, aliás, nunca vi.
Hoje, depois de alguns bons anos, enchi o saco. Cansei de pensar sozinho nesse assunto.
Não posso ter sido o único privilegiado. Mais alguém deve estar passando por essa mesma agonia, de querer alguém para dividir as mesmas dúvidas e as mesmas conclusões.

Aqui, os lunáticos são sempre bem-vindos...
...sempre, tendo visto alguma luz ou não...


Dualidades

O ser humano é engraçado, né...
Entre todas as características que definem cada pessoa, a que mais me chama a atenção, é a capacidade de transformar tudo em dualidade. Tudo. Qualquer coisa.
Toda e qualquer característica inerente ao indivíduo, gera uma força que "impulsiona para frente", mas que pode, com a mesma intensidade, "tragar como se fosse um repuxo".
Confuso, né...Eu explico...

Em alguns, pode manifestar-se como uma coragem excessiva.
Que pode levar o indivíduo a tomar decisões que um ser humano comum evitaria, seja por medo, seja por algum outro receio. Entretanto, essa coragem pode expô-lo excessivamente.
E, curiosamente, a riscos que aquele mesmo cidadão comum jamais experimentaria.

Ao invés da coragem, essa força pode vestir a máscara da ambição.
Da crítica. Da fé.
Em mim, por incrível que pareça, essa força vestiu as máscaras da vontade e da capacidade de amar. Quando amo, amo demais. Me entrego demais e, como diria o poeta, amo como se não houvesse amanhã.
Em um primeiro momento, dá a impressão de ser uma característica muito boa, positiva.
E realmente o é. Essa característica é responsável por ânimo revigorado toda manhã.
Serve de incentivo para as minhas conquistas, todas dedicadas àqueles que amo.
Minha esposa, minha mãe, minha vó, minha cadelinha.
Amo demais todas as fêmeas da minha vida. Amo até doer.
Amo angustiadamente. Amo e chego a sentir a dor do aperto cada vez que preciso me afastar de alguma delas.



Essa mesma força, "me puxa para baixo".
De uma maneira vulgar e egoísta, essa mesma força chega a um ponto de fazer com que eu não queria mais amar. Nada nem ninguém.
Faz com que eu queira abrir mão do sentimento mais puro e lindo do mundo, para que no final das contas, não precise lidar com a perda. Seja ela física ou mental.
Amar dessa forma, me leva a pensar constantemente na maneira com que vou lidar quando perder cada uma dessas criaturas queridas.
Amo infinitamente mais minha cadela de estimação do que a grande maioria dos meus familiares. Apesar disso, já passei por momentos em que preferi nunca ter entrado em contato com ela. Simplesmente por não saber como enfrentar o momento de perdê-la.

Invariavelmente, me sinto perdido no roteiro de "Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças".
Afinal de contas, o que é melhor?
Amar até explodir, ou nunca amar, para não precisar lidar com a ausência do ser amado?